terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Histórias que batem forte...

O comportamento de uma pequena de cinco anos e meio de idade, conforme conta o pai, pode ilustrar como é fácil a uma criança sentir que ela é a Gata Borralheira. A rapariga tinha uma irmã mais nova, por quem sentia muitos ciúmes. A pequena gostava muita d'A Gata Borralheira, porque a história lhe oferecia material para ela act out os seus sentimentos e porque, sem as suas imagens, teria dificuldade para os compreender e exprimir. Esta pequena costumava vestir-se com muito esmero, gostava de vestidos bonitos, mas tornou-se desleixada e suja. Um dia, quando lhe pediram que fosse buscar sal, ela disse, enquanto o fazia: «Porque é que vocês me tratam como se eu fosse a Gata Borralheira?» Quase perdendo a fala, a mãe perguntou-lhe: «Porque é que pensas que te trato como a Gata Borralheira?» - «Porque vocês me obrigam a fazer o trabalho mais penoso da casa!», foi a resposta da pequena. Tendo, por esta forma atraído os pais para dentro das suas fantasias, ela acted out as mesmas mais abertamente, simulando varrer toda a porcaria, etc. Ainda foi mais longe, fazendo como se estivesse a arranjar a irmãzita para o baile. Mas ela fez melhor do que a Gata Borralheira; baseada no seu entendimento inconsciente das emoções contraditórias fundidas no papel da Gata Borralheira, disse noutra ocasião à mãe e à irmã: «Vocês não deviam ter ciúmes de mim só porque sou a mais bonita da família.»"

extraído de "A Psicanálise dos Contos de Fadas", de Bruno Bettelheim

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