terça-feira, 30 de outubro de 2007

Necessidade vs Desejo


No conto Hansel & Gretel, adaptado pelos irmãos Grimm, podemos verificar uma oposição entre os desejos primitivos da criança e as suas necessidades mais básicas.
Quando na história, os irmãos não conseguem regressar a casa, a fome toma conta deles, sendo encarada como uma necessidade primária, que necessita satisfação antes de qualquer outra coisa. Assim, o desejo de voltar à segurança e abrigo da sua casa passa para um segundo plano.
A comida é então a solução para o problema, o que nos remete para o instinto primitivo de sobrevivência do Homem, em que só após a satisfação das carências vitais, consegue lutar pela realização de carências secundárias, mas não menos importantes. Hansel e Gretel foram abandonados pelos pais face à impossibilidade destes lhes poderem propocionar bens básicos como a alimentação. Deste modo, a casa de broas torna-se mais aliciante que o próprio regresso a casa.
Bettelheim sugere ainda que "A criança tem de aprender que, se não se libertar destes desejos, os seus pais ou a sociedade a forçarão a fazê-lo contra sua vontade". A casa de broas surge como um impedimento do retorno a casa feito pelo mundo, numa tentativa de eles cairem na realidade do abandono dos pais, sabendo que a determinada altura, teriam que subsistir por si e largar o tão acolhedor conforto do lar. Isto porque a casa é simbolicamente o corpo da mãe que amamenta o seu filho. A casa de broas é "a boa mãe", aquela que satisfaz a necessidade biológica do seu filho. As crianças não se importam então de desapossar qualquer outra pessoa (comendo-lhe a casa), já que elas próprias foram abandonadas e entregues aos seus problemas.
Hansel & Gretel surge como uma reflexão da necessidade primitiva do homem sobreposta à capacidade de atingir os seus objectivos.

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