terça-feira, 1 de abril de 2008

Contos tradicionais portugueses

Um dos objectivos do nosso trabalho é também a análise do conto português, sua estrutura e respectivos elementos. Muitas vezes torna-se difícil separar a lenda deste estilo narrativo, uma vez que a oralidade associada aos contos lhes confere diferentes versões e significados.
Os contos tradicionais do povo lusitano são conhecidos pela sua afinidade com a religião e pela sua carga simbólica. É interessante verficar como a tradição oral de um povo o retrata a si e à sua história, sendo por isso um modo fiel de caracterizção de uma cultura.
Se atentarmos em determinados contos como "O Menino Sem Olhos" ou "O Caldo de Pedra", descobrimos uma característica tão nossa conhecida e tão incutida nas nossas raízes: a capacidade de improvisação e a astúcia. Se por outro lado, nos debruçarmos sobre as lendas regionais, que procuram explicar a origem das cidades ou dos seus nomes, verificamos que quase sempre se baseiam em milagres ou em acontecimentos históricos em que um homem se distingue pela sua coragem e perspicácia. No entanto, as histórias tradicionais portuguesas são também conhecidas pela sua violência, como é visível no conto há pouco referido, "O Menino Sem Olhos", em que um rapaz arranca os seus próprios olhos a pedido do irmão. Contudo, como já aqui explicámos, a violência presente nas histórias não prejudica a criança nem a incita a actos violentos, pelo contrário! O desfecho em que o "homem mau" é castigado ou perdoado, veicula a ideia de que temos sempre oportunidade de nos redimirmos dos nossos erros.
Atentando agora na simbologia do conto tradicional português, "levantamos um pouco o véu" no que diz respeito à sua simbologia. Falemos então da "encruzilhada".
Simbolicamente, a ideia da escolha aparece representada na situação do sujeito perante a encruzilhada. Profundamente enraizada, a simbologia da encruzilhada tem já uma longa tradição em inúmeras culturas e encontra-se presente em muitos contos. Os pontos cardeais (Norte, Sul, Leste e Oeste), dão-nos a dimensão de um espaço imaterial, o espaço das possibilidades a seguir. Parado no cruzamento entre dois caminhos, o homem está como se estivesse no centro do mundo, diante de um leque de alternativas. Ele tem quatro caminhos, quatro destinos, e um deles é o seu. Geralmente, a chegada do herói ao cruzamento corresponde ao clímax da narrativa e antecede o seu desfecho que depende do caminho escolhido pelo personagem referido.

2 comentários:

janita disse...

Olá!acabei agora de ler a actualização desta semana e soube-me a pouco,...mas ao mesmo tempo deixa espaço para mais uma reflexão sobre as escolhas que fazemos e o instante decisivo em que as fazemos. Perante uma encruzilhada do País das Maravilhas, também a Alice perguntou: -por onde vou? Noutro registo, Kant perguntaria:- o que me espera? As "encruzilhadas" dos contos, simbolicamente põem-nos a caminho do reconhecimento da liberdade, do nosso livre-arbítrio, do nosso modo de ser Alice, mesmo longe de um qualquer País das maravilhas...e sempre na justa medida da nossa finitude..., aquela mesma que é capaz de produzir as maiores encruzilhadas .

Joana disse...

Obgada mais uma vez pelo seu comentário stora! Sabe, é realmente compensador saber que é leitora assídua do nosso blog =) É verdade que, mais cedo ou mais tarde, todos nós também nos deparamos com uma encruzilhada! E acaba por ser interessante verificar que esta simbologia que nós encontramos nos contos "infantis" nos confronta com uma realidade que nós, alunos do secundário, vivemos agora: a difícil tarefa de fazer escolhas!... Boa semana =)