sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

O ciclo "animal-noivo"


É frequente em várias histórias infantis, a presença de um "animal-noivo". São exemplo disso os contos "A Bela e o Monstro", "O Príncipe Sapo", o conto português "A Menina e o Bicho" e até o mito "Cupido e Psique". Encontram-se pela primeira vez neste mito personagens-tipo dos contos infantis como as irmãs más que, invejando a irmã mais nova por ser mais bonita e talentosa, tentam tudo para a fazer infeliz; acontecimentos trágicos em consequência da desobediência da noiva; o ciclo animal-noivo: animal durante o dia e humano no leito.

O animal-noivo vive com as suas experiências diurna e nocturna separadas, ou seja, ele pretende separar a vida sexual de tudo o que faz. Pelo contrário, a mulher não aceita a separação da vida sexual de tudo o resto, tenta unir as duas coisas.
Embora a unificação do sexo, do amor e da vida só seja conseguida com muito esforço, ela não abdica desse desejo, e no fim triunfa. A vida confortável de que Psique desfrutava em relativa ingenuidade não a satisfaz e ela sente-se vazia; a mulher não se satisfaz permanecendo ignorante acerca do sexo e da vida. Uma vez ultrapassada a ideia de que o sexo é algo de animalesco, a mulher já não se satisfaz com ser apenas um objecto para o sexo e ser relegada para uma vida de lazer e importância relativa. “Para a felicidade de ambos os parceiros é essencial que tenham uma vida plena, não só com o mundo, mas também entre eles”. Este género de contos sugere que a tarefa é árdua mas necessária, se o casal quiser encontrar a felicidade.


Texto baseado no livro de Bruno Bettelheim A Psicanálise dos Contos Infantis

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