terça-feira, 29 de abril de 2008

Capuchinho Vermelho- a verdadeira história

Graças à última actualização do João, lembrei-me de um filme de animação de 2006, intitulado"Capuchinho Vermelho- a verdadeira história", que mostra também uma versão alternativa do tão conhecido conto infantil. À semelhança de outros filmes de animação, são actores famosos que dão voz às personagens: Glenn Close (avózinha), Anne Hathaway(capuchinho vermelho), James Belushi (lenhador) e Patrick Warburton (lobo).

Tal como a sinopse do filme refere, " é revelada a história completa de como o Capuchinho Vermelho, a Avózinha , o Lenhador e o Lobo se juntaram como suspeitos de um crime, num caso que praticamente enganou a lei." Apenas vou desvendar que o crime em questão consistiu no roubo de um livro de receitas culinárias.

Quem tiver interesse em conhecer este outro «Capuchinho Vermelho» deverá ver o dvd. Para já, deixo o trailer da versão original do filme, pois não consegui encontrar o dobrado em português.

O rei vai nu

Este conto fala-nos de um rei que era muito vaidoso. Certo dia, dois trapaceiros resolveram aproveitar-se desta sua peculiaridade, enganando-o. Disseram-lhe, então, que haviam encontrado um tecido muito belo, que apenas os mais inteligentes eram capazes de ver. Conseguiram que o rei logo quisesse comprar um fato de tal raridade, a fim de mais bonito parecer e para poder testar a qualidade intelectual da sua corte.
Algum tempo depois, o monarca decidiu sair com a sua “vestimenta” e mostrar-se ao povo. Toda a gente olhava admirada para o rei, pois ninguém queria mostrar-se parvo. A dada altura, uma criança, na sua inocência, gritou: -“Olha, olha! O rei vai nu!”
A afirmação desencadeou prontamente uma gargalhada geral e só aí o rei compreendeu que tinha sido enganado. Envergonhado com toda a situação, e arrependido da sua vaidade, rapidamente se escondeu no palácio.
A história d’ “O rei vai nu” adverte-nos do perigo de, ao sermos demasiado vaidosos, ficarmos mais frágeis, menos lúcidos e capazes de usar a razão, enfim, mais susceptíveis de sermos enganados e cairmos no ridículo. A vaidade excessiva tolda a mente.
Por outro lado, fala-nos do medo de nos afirmarmos perante os outros, de expressarmos o que pode ser rejeitado ou contribuir para que não nos aceitem, ainda que seja por demais óbvio. Todos viam que o rei estava nu, mas só uma criança, que não teme ainda a rejeição social, porque dela não tem consciência, foi capaz de o denunciar publicamente.
A inocência infantil poderá, porém, ser substituída pela coragem de alguém que ouse ir «contra a maré». Se algum adulto, de entre os muitos que assistiam ao desfile, tivesse dito bem alto a verdade, poderia ter igualmente desencadeado a reacção colectiva. Por isso, esta história constitui igualmente um estímulo à intervenção corajosa, ousada.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Snow White


"A irreverente coreógrafa americana, Ann Liv Young, está pela primeira vez em Portugal, a convite do projecto de residências promovido pela ZDB/Negócio, com uma residência e simultaneamente para apresentar a sua mais recente criação "Snow White". Dias 22 e 23 de Abril, no espaço Negócio, em Lisboa.
Nesta performance Ann Liv Young, dá-nos a conhecer o seu universo mirabolante e eléctrico, entrando no mundo mágico da Disney, apresentando uma Branca de Neve subversiva e transgressora!"

em Público

terça-feira, 22 de abril de 2008

Para os nossos pais...

Um presente do nosso grupo para todos aqueles que nasceram por volta da década de 60 e sobreviveram à televisão a preto e branco!

terça-feira, 15 de abril de 2008

Se o inconsciente falasse..


Era ainda de manhã e a menina do capuchinho vermelho estava impaciente (ainda sem o capuchinho obviamente)...A mãe tinha uma missão para ela. Sendo uma criança pré-púbere, cujo inconsciente e o consciente se imiscuíam, ela sabia que era nesse dia que a sua vida ia mudar. Todas as crianças neste novo mundo de contos de fadas eram assim. De repente, ouve os passos da mãe no corredor e vira-se para olhar o objecto que esta transportava: uma cesta de vime de onde saía o odor de bolos frescos e mel caseiro. Espreitou para dentro e viu ainda algumas maçãs.
- Filha, tens que levar isto à casa da avó que fica depois da floresta…
- Por onde devo ir?
A mãe sabia que no mundo onde o inconsciente não era digno desse nome não valia a pena fazer jogos, mentiras piedosas, enigmas ou qualquer coisa dentro do género.
- Tens dois caminhos, a estrada e a floresta. Não vejo porque não ires pela estrada convencional, mas tu é que decides, já és uma mulherzinha…
- Não não sou! Ainda não sou menstruada! - Disse a menina abespinhada.
- Agora vais ser - afirmou a mãe enquanto lhe colocava o capuchinho vermelho vivo.
A capuchinho não disse mais nada, limitando-se a dar um beijo na cara à mãe e despedindo-se.
Era óbvio que ia pela floresta. Que há de interessante numa estrada igual a todas as outras? Antes perder-se no meio de árvores inofensivas do que ser atropelada…
Embrenhou-se pela floresta e começou a saltitar pelo caminho, sentindo o poder hormonal que se ia apoderando dela a pouco e pouco. Os sons estranhos não a assustavam, ela sabia que mais tarde ou mais cedo ia encontrar algo de inesperado e que ia mudar a sua vida para sempre.
Foi rápido, surpreendente e, de certo modo, reconfortante, ainda que de uma maneira distorcida e completamente "fora": O Lobo surgiu na clareira e roubou-lhe a cesta.
- Mas que faz uma menina tão bonita num sítio tão escuro para a sua beleza?
- Sejamos francos, eu sei que a cesta é só um pretexto para me papares, seu malvado.
- Pois, és bonita e esperta. Não sabes é de que maneira te quero "papar".
- Porquê, há muitas maneiras? Dá-me um chupa.
- O quê??
- Estão na cesta, eu trouxe para o caminho - respondeu ela imediata e secamente
O lobo meteu a pata na cesta, mas...
- NÃO!! Com essa pata porca não! Usa um lenço.
Deu-lhe o chupa e olhou para ela.
- Não te quero papar, só quero a cesta. Para onde vais?
- Para casa da minha avó, na orla da floresta.
- Não pedi a descrição..mas obrigado, já tenho refeição - afirmou o animal provocante.
- Come, eu não gosto nada dela, é chata e faz-me andar quilómetros só para lhe dar bolinhos que não pode fazer porque tem tempo de reformada a mais... - O sarcasmo corria nas veias da rapariga precoce.
O lobo partiu espantado, as crianças do mundo sem inconsciente controlado eram cada vez mais ariscas. Não parava de pensar na insinuação da rapariga. Não posso, sou um lobo, devia era comê-la e não deixar ossinho...

O capuchinho vermelho continuou até à casa da avó. Bem, a velhinha inocente já não ia chatear mais..Naquele mundo não havia inconsciente, mas a consciência tinha então que se misturar com o que dele restava, sendo o resultado um lugar estranho para as crianças, que lidavam com desejos que supostamente deviam ser inconscientes, como ver-se livre da pobre avó, de uma maneira perfeitamente casual, não lhe dizendo a razão quando parar. Basicamente, eram quase sobredotadas no que se referia às emoções dos outros e ao mundo em si, mas muito pouco sabiam sobre elas próprias, excepto o que não deviam.
Avistou as telhas laranja por trás de uma macieira que já dava frutos. Viu uma maçã brilhante e vermelha no chão. Bem hoje tudo indica que vou ceder a uma tentação, ou então vou tornar-me uma mulherzinha. Agarrou na maçã e meteu-a no bolso da casaca. Estava tudo silencioso e a avó não estava com o seu habituado ar pasmado na cadeira de baloiço do alpendre. Um jornal encontrava-se pousado no seu lugar. A capa mostrava duas crianças da sua idade, cada uma com um barrete e de sorriso de orelha a orelha, com uma casa coberta de doçuras atrás. "Hansel & Gretel - Vendedores de Doces". Bem, pelos vistos os dois irmãozitos naquele mundo tinham tido uma gota de esperteza, não fugiram da casa depois do homicídio, em legítima defesa, da bruxa, aproveitando toda a doçaria para venda. Noutras divisões da manchete, podiam ler-se notícias acerca da futilidade das princesas, que tinham decidido viver todas juntas com o dinheiro dos seus príncipes; de um feijoeiro até ao céu que conduzia a um parque de diversões e do abandono de três porquinhos pela mãe biológica.
Pousou a publicação e entrou na casa, verificando que o lobo estava na cama, mas fingindo-se despercebida:
- Avó, porque estás deitada?
- É para te receber melhor... - Disse o lobo na sua pior imitação de idosa.
- Ah...estás doente..pobrezinha..deixa-me ver se tens febre.
O lobo não esperava que o raio da miúda se metesse nos lençóis sem mais nem menos.
- A menos que não tenhas feito a depilação, não és a minha avó. O que lhe fizeste?
- Papei-a, como sugeriste.
- Epá, será possível? Isso é daqueles desabafos, não vês que era família? - Disse numa voz que agora fazia notar um leve arrependimento.
- Desculpa! Eu faço tudo para te compensar!
- Fazes...?
- Sim.
- Torna-me mulher. - Afirmou resolutamente.
- O quê? COMO?
- Não sei, mas sei que os rapazes têm alguma coisa a ver com isso. Tu é que deves saber.
- Olha, eu sou um animal que saciou a sua fome, acho que precisas de voltar para casa e fazer perguntas à tua mãe...estás na idade para isso.
- Não disseste que havia outra maneira de papar?
- Desculpa, mas não posso, és menor, esta polícia não tem inconsciente, mas é bem consciente das leis e essas não permitem abuso de menores. Tenho que ir tratar da saúde a uns certos porquinhos...A minha digestão demora apenas duas horas, tenho que comer. Porta-te bem.
E saiu correndo nas quatro patas com uma touca ridícula na cabeça que se esqueceu de tirar.
A menina do capuchinho vermelho olhou para uma foto da avó na cabeceira da cama. Como pude eu querer que ela morresse? Ela era a minha avó.Uma lágrima caiu no chão e o arrependimento encheu toda a sua mente, quer esta tivesse restrições ou não. Sentiu a maçã e tirou-a do bolso, observando-a. Aquele mundo era como a maçã: tinha sabor, mas não tinha forma única, as pessoas praticamente não tinham nada de secreto para elas, eram todas iguais por dentro; o que as tornava especiais não se mostrava (assim, no nosso mundo pode ver-se que não é apenas o exterior que forma o indivíduo). Contudo, tal como o fruto, podiam adoptar diferentes cores (exterior físico ), mas paladares semelhantes, ainda que não totalmente iguais (interior, que se assemelhava em todos os seres humanos), podendo existir atracção sem inconsciência, embora não houvesse amor no sentido lato. E foi assim que, cedendo às tendências orais como uma criança com inconsciente controlado, que a menina comeu a maçã tornando-se mulher.

No nosso mundo isto estaria errado pois a interpretação dos contos sugere que a dependência oral é sinónimo do infantil. A criança só se torna independente como pessoa quando deixa a dependência da oralidade. Mas este mundo não é contrário ao nosso? As atitudes têm que ser também contrárias. Porque se tornou mulher? Porque devorou o símbolo do seu mundo criando um próprio no interior da sua pessoa: o inconsciente como unidade independente.

Não sabemos como foi a vida da menina após este incidente, mas acreditamos que tenha ido viver para outro mundo: o seu próprio, deixando aquele para sempre, para sua alegria. Como seria se o inconsciente falasse, como naquela dimensão?

terça-feira, 8 de abril de 2008

Em jeito de síntese

O nosso trabalho de projecto já vai bem adiantado, pelo que é chegada a hora de apresentarmos uma síntese das actividades desenvolvidas, para além de uma breve referência às acções a desenvolver na etapa final.
Numa primeira fase, indentificámos e estudámos uma série de símbolos comuns a grande parte das histórias infantis, como, por exemplo, a madrasta, o príncipe, a fada e o castelo. Iniciámos, também, desde logo, pesquisas sobre teses do desenvolvimento infantil, contemplando diversos autores, especificamente Piaget, Freud, Watson, Gesell e Bruner.
Mediante as análises de contos, estrangeiros e portugueses, que fomos realizando periodicamente, e baseados em conteúdos do âmbito da psicologia recolhidos e compilados, compreendemos de que modo as histórias infantis podem ser um meio de "libertação" de complexos (por exemplo, do Complexo de Édipo).
Num período mais avançado, porque já detentores da base necessária de conhecimentos, directos e indirectos, acerca do objecto do nosso projecto (os contos infantis), procurámos intervir na sociedade. Primeiro, com a organização e filmagem de um debate no Infantário Obra de Santa Zita, em que os pequenos protagonistas falaram sobre os contos que conheciam e outros aspectos relacionados. A seguir, através da realização de um inquérito por questionário a duas turmas do ensino secundário, na nossa Escola. Por último, com uma visita à ala de pediatria do "Hospital Cova da Beira", onde promovemos e orientámos actividades de expressão alusivas a alguns contos.
Nesta fase, estamos a tratar de toda a parte gráfica do nosso projecto: o tratamento das imagens recolhidas no Infantário e a concepção de um poster temático, a divulgar na mostra de trabalhos da área de projecto; também a produção de um conjunto de diapositivos, em power point, destinados à apresentação do trabalho final. Este incluirá, como apêndices, registos audiovisuais do debate realizado, em suporte digital.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Contos tradicionais portugueses

Um dos objectivos do nosso trabalho é também a análise do conto português, sua estrutura e respectivos elementos. Muitas vezes torna-se difícil separar a lenda deste estilo narrativo, uma vez que a oralidade associada aos contos lhes confere diferentes versões e significados.
Os contos tradicionais do povo lusitano são conhecidos pela sua afinidade com a religião e pela sua carga simbólica. É interessante verficar como a tradição oral de um povo o retrata a si e à sua história, sendo por isso um modo fiel de caracterizção de uma cultura.
Se atentarmos em determinados contos como "O Menino Sem Olhos" ou "O Caldo de Pedra", descobrimos uma característica tão nossa conhecida e tão incutida nas nossas raízes: a capacidade de improvisação e a astúcia. Se por outro lado, nos debruçarmos sobre as lendas regionais, que procuram explicar a origem das cidades ou dos seus nomes, verificamos que quase sempre se baseiam em milagres ou em acontecimentos históricos em que um homem se distingue pela sua coragem e perspicácia. No entanto, as histórias tradicionais portuguesas são também conhecidas pela sua violência, como é visível no conto há pouco referido, "O Menino Sem Olhos", em que um rapaz arranca os seus próprios olhos a pedido do irmão. Contudo, como já aqui explicámos, a violência presente nas histórias não prejudica a criança nem a incita a actos violentos, pelo contrário! O desfecho em que o "homem mau" é castigado ou perdoado, veicula a ideia de que temos sempre oportunidade de nos redimirmos dos nossos erros.
Atentando agora na simbologia do conto tradicional português, "levantamos um pouco o véu" no que diz respeito à sua simbologia. Falemos então da "encruzilhada".
Simbolicamente, a ideia da escolha aparece representada na situação do sujeito perante a encruzilhada. Profundamente enraizada, a simbologia da encruzilhada tem já uma longa tradição em inúmeras culturas e encontra-se presente em muitos contos. Os pontos cardeais (Norte, Sul, Leste e Oeste), dão-nos a dimensão de um espaço imaterial, o espaço das possibilidades a seguir. Parado no cruzamento entre dois caminhos, o homem está como se estivesse no centro do mundo, diante de um leque de alternativas. Ele tem quatro caminhos, quatro destinos, e um deles é o seu. Geralmente, a chegada do herói ao cruzamento corresponde ao clímax da narrativa e antecede o seu desfecho que depende do caminho escolhido pelo personagem referido.